terça-feira, 20 de julho de 2010

"Um ponto de vista"

Era mais um final de semana onde eu procurava algo diferente para fazer.
A noite havia chegado e mais do que antes, eu sentia a necessidade de fazer algo ao ar livre, de respirar o infame ar urbano, mas ao mesmo tempo, aproveitar para perder-se nos pensamentos como há tempos não acontecia; seria uma tentativa de flanar. Como a minha caminhada tinha um certo sentido, um motivo, um "objetivo", a ligação com o flaneur estava em tentar aproveitar a caminhada, sem pressa, fazer o caminho que fosse, mesmo não sendo o mais curto, mas tendo em vista o caminhar em si.


Desde que comecei, a lua já havia chamado-me a atenção; brilhava de uma forma atraente, parecia estar mais próxima do que o comum, como se um cíclopes gigante observasse toda a atividade humana.
Você podia ser rico, ser pobre, ser solitário, ser popular, altruísta, egoísta, órfão, avô, patrão, empregado, etc., podia ser quem fosse, ter a visão que tivesse, a lua brilhante e reluzente não deixava de brilhar por causa disso.

Se por algum acaso sua visão transcendesse sua individualidade, se sua visão deixasse de ser mais um ponto de vista, mas se aproximasse daquela essência irredutível; que observasse aquela espécie de centelha que move a tudo e a todos. Você se identificando no mais simples grão largado no meio da rua, na mais simples planta lutando pela sua sobrevivência ao buscar água no subsolo, naquela pessoa, que brava, amaldiçoa o mundo, e a outra, que serena, dorme confortavelmente.
Você percebe que o sofrimento é geral, e logo, senta empatia, compaixão.

Ao mesmo tempo, por ter-se afastado da individualidade, deixa de sofrer.
Percebe que o mundo é mundo, você é o mundo, a planta é o homem, o homem é você, o grão é o mundo, a lua é a planta; você está em tudo e tudo está em você.

Depois, sua atenção é chamada, você sente-se puxado para a sua condição anterior, volta a querer, sente sede, tem sua visão afetada pelo lado racional e não mais o intuitivo, quer comprar alguma coisa, sente vontade, sente-se mais um no meio do mundo, no meio de tudo, e não mais, tudo no meio de tudo.

Você olha de novo para a planta e estranha, não reconhece mais o grão no asfalto; aquela pessoa brava é uma infeliz, e talvez você sinta-se superior por não compartilhar do mesmo estado.
E aquele "êxtase" torna-se nostálgico e você volta a sofrer.

Um comentário:

  1. Meu Deus. Achei super demais a maneira que você usou as palavras, as afirmações (verdadeiras). Amei mesmo, parabééns!

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