segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Imagem

Um dos aspectos do mundo contemporâneo é a superestima da imagem.
Se a política na Grécia e o dinheiro no XIX pautavam as relações sociais, no sentido de visibilidade com o próximo, talvez no mundo atual a imagem tenha se sobressaído.
Para você ser reconhecido como Outro, como indivíduo, você deve ter imagem.
A imagem através do status é fortemente incluída nesta discussão, e a imagem ligada ao objeto, também relaciona-se com o conceito de "fetiche pela mercadoria".
O importante (o "interior") não é o essencial, mas a aparência por si só ganha reconhecimento.

Nessa Sociedade do Espetáculo, programas como o Big Brother ganham evidência e impulso.
Não interessa tanto se você realmente tem algum conhecimento sobre algum assunto; se você vai à academia você ganha uma respeitabilidade imediata.
Qualquer atitude sua será comentada e você fará o mesmo, não verificam-se os porquês, mas a simples aparência dirá tudo sobre a pessoa. A superficialidade tornou-se essencial de alguma forma.

O pseudointelectualismo pauta as discussões.
Vale mais você entender da arte das palavras do que do próprio assunto em discussão. Se você tiver boa eloquência, você ganha respeito, independente se fala bobagem ou não.

Seria bom, através da crítica, que a superficialidade fosse encarada como algo efêmero.
Ao analisarmos sabemos que um indivíduo do Big Brother é conhecido, "respeitado", por estar no Big Brother.
Um indivíduo pseudointelectual é respeitado pela sua aparência de intelectualidade, e não necessariamente pela intelectualidade em si.
Talvez isso tudo seja resultado de uma perda de valores. Ou, a imagem, definitivamente tornou-se um novo valor.
De qualquer forma, é bom pararmos para pensar, não?

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Senso de Empatia

Através desse mundo caótico e pós-moderno,o afastamento entre as pessoas aumentou de forma que fatores como o individualismo exagerado ou para outros, o exagero da razão tenham trazido o ser para longe de sua humanidade sentimentalmente falando.
O futuro distópico do indivíduo completamente apático e mecânico pode parecer assombroso, mas faz sentido. Se as coisas continuarem; poderão levar para esse caminho. Mas se buscarmos nos reformar e rever conceitos, podemos desviá-lo.
Logicamente não digo revolucionarmos todas as relações entre as pessoas de uma hora pra outra; porque nem sempre espera-se muito isso; talvez justamente pela mecanidade atual há uma recusa da participação no conjunto.
Mas não necessariamente será aquela recusa de não querer qualquer tipo de relação; mas talvez a atual esteja tão podre que cause até repulsa, quem sabe.
Pode soar meio abstrato querer procurar uma nova forma de relação no geral, mas a partir dessa condição, da consciência de que precisa de mudança, através dessa premissa, pode ser o começo para uma nova discussão.
Será que essa idéia uniria os conceitos de um novo sujeito com nova moralidade, de Nietzsche, o Übermensch, com a própria idéia da construção de uma sociedade completamente nova, como dizia Marx?

Imagine-se andando na rua e por um instante olhares se cruzam. Longe de querer envolver o conceito romântico de amor, mas o sentimento de empatia, de se reconhecer no outro. Se nós temos uma mesma essência metafísica e sofremos dores existenciais como diria Schopenhauer, ou se nos reconhecessemos como classe social igual, são maneiras de se ver a empatia, o que é bastante importante, tanto na filosofia, na arte e no ativismo em si; para quem sabe não chegarmos no então Admirável Mundo Novo.

Acredito que a empatia devia ser um sentimento recorrente nas relações humanas (não confundir com simpatia).
Talvez digam que os mais sentimentais ou talentosos possam desfrutar melhor destas coisas, mas o que seriam de nossos progressos se não enxergamos referências altas? Se não procuramos nos levar por picos cada vez mais altos.
Através da empatia podemos procurar um mundo melhor e ao mesmo tempo, termos nossas características preservadas, nosso espaço individual resguardado.
Não que exista uma fórmula, mas a partir daí, da capacidadade de reconhecer esses assuntos podemos desviar do caminho robótico/mecânico, para esse algo mais "humano".

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Carpe Diem

Eu acho que o ideal de carpe diem geralmente está envolvido com intenções hedonistas e até individuais.
O que é interessante do carpe diem é que ele instiga ao "aproveitar a vida", quase como se deveríamos aproveitar ao máximo da vida, justamente por ser a única que temos; não existe passado e futuro, que são quase conceitos abstratos neste caso, mas somente existe o agora em constante movimento.

Acho que não deve-se excluir o passado e o futuro, mas que no carpe diem, eles têm menos importância que o agora. O "agora" e o consequente, "aproveitar o agora", são a essência.
Em termos específicos, ao fazer uma atividade deve-se primeiro aproveitá-la e o "resultado" fica quase de lado - obviamente que algum resultado é esperado, porque dele sai a própria escolha da atividade, em vários casos.

O interessante é a ênfase no agora; posso começar a estudar ou treinar para algo, mas minha ênfase é no processo, no durante. E não necessariamente em resultados positivos, se bem que isso acaba aparecendo como consequência em alguns casos.

Portanto, podemos dizer que entre passado/presente/futuro, a ênfase é no presente. Passado não deve ser esquecido, se não nada se aprende, há ingenuidade por exemplo; e se o futuro é esquecido, as coisas na maioria das vezes perdem o sentido, perdem a razão, o "devir" não existe mais, presente transformando-se em futuro constantemente - e vice versa - é deixado de lado e a realidade torna-se distorcida, pelo menos através da visão racional.

Sem o passado ou o futuro - apesar de considerados abstratos - o homem tende à irracionalidade. Aquela dialética que permeia à existência, o tempo; desaparece tudo parece estático. É mais ou menos assim que sente-se o animal, sem a projeção do futuro e o aprendizado objetivo do passado.

Então, o carpe diem racional - que tem em vista estes aspectos - trás um tipo de subjetividade, é em parte pós-moderno, por causa da ênfase no "agora" e em parte moderno, com a característica do devir em vista.
Talvez o mundo contemporâneo precise "aproveitar mais" as coisas e ter o sentido de devir em mente também.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Conservadorismo

"Quando tudo está na mais completa harmonia e ocorrendo como esperado, e acontece algo que vai de encontro com isso, e sua atitude é combater, ir contra ou negar."
Isso poderia ser uma forma de descrever ou colocar o conservadorismo na prática.
Mas qual poderia ser sua origem?
De onde pode vir a motivação de se evitar mudanças e manter as coisas como estão?
Medo do desconhecido? Comodidade ou confortabilidade?
Eu acho que tudo isso está relacionado com fraqueza.
O ser humano que é conservador deve ser inicialmente fraco para tal (e eu não quero ser conservador nesta opinião, mas aceitar "anomalias à regra"; portanto a maioria; probabilisticamente deve seguir este padrão).

Mas quem deseja conservar sua situação?
Quem deseja conservar, pretende conservar a pobreza, a miséria existente? - Quem se beneficia indiretamente com isso provavelmente deseja conservar isso.
Mas sobre o resto, devia ser unânime, para os que guardam qualquer sentimento de compaixão, que suas atitudes não deviam ser para se conservar, mas em direção da mudança. E as discussões seriam diferentes, verificaríamos de qual maneira a mudança seria melhor, e poderíamos chegar à debates dos métodos marxistas, anarquistas, por exemplo. Se a mudança ocorreria subitamente ou gradativamente, através de reformas ou de revolução; etc.
E não faríamos essas discussões que não levam a muitos lugares (quando há o conservadorismo extremo) já que não há a procura de mudanças e simplesmente reprodução do que já existe.

O sentimento conservador é contraditório com a própria natureza, por exemplo quando consideramos a essência dialética das coisas.
O sentimento conservador nãó é compatível com nosso mundo em constantes mudanças, e suas relações dialéticas.
Ora, nossos próprios pensamentos são dialéticos, citando Hegel e Freud por exemplo.
Hegel que veio antes, trabalhou bastante sobre a dialética (apesar de idealista, o que para alguns era estranho); ele dizia que nossos pensamentos e tudo, o desenvolvimento, são relacionados a partir da fórmula, tese-antítese-síntese (sendo que a síntese torna-se uma nova tese e assim em diante).
E Freud nos diz que nossos pensamentos seguem a estrutura do Id, Ego e Superego, portanto também dialética, conflituosa.

Eu acho que a dialética torna-se mais importante nos tempos atuais com a discussão sobre a pós-modernidade por exemplo (onde consideram que as utopias e as teorias ditas totalizantes foram quebradas). A dialética pode ser considerada com viés totalizante, mas a sua mutabilidade encaixa-se tanto com a modernidade, quanto com a pós-modernidade, por causa da constante contradição entre as coisas.
Interessante pensar que a dialética socrática e a marxista (nascida da hegeliana) estão intimamente associadas com mudanças, não?

E com isto voltamos; porque a conservação das coisas?
Por que nas discussões, a opinião, mais bem aceita, a do senso comum, tende a ser conservadora?
As idéias dominantes são sempre as da classe dominante, influenciada fortemente pelas relações sociais e de produção, mas justamente pela dialética, - uma dinâmica - não é necessariamente determinista, porque senão não haveria sequer alguém como eu pensando nessas bobagens.
Mas a ênfase que dou é no incentivo ao pensamento crítico que tem como melhor consequência, a emancipação do homem.
E tudo isto inicia-se no simples acompanhar de águas do mundo, na dialética, e mais simples ainda, na mudança.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Subjetividade na Racionalidade

Inicialmente, quero separar essa dualidade das comumentes associadas "mente X coração" e "paixão X razão"; porque essas; apesar de se ligaram com a dualidade maior, tomam uma pequena parte da questão e por isso a igualdade não vale; mas em termos gerais podemos considerá-las.

Vou tentar dar nome aos participantes.
A racionalidade deve ser o termo mais simples de divagar. E a racionalidade seria o método - no sentido de ferramente de análise - em que há ênfase na razão.
O pensamento racional, sem dúvida, faz parte do ser humano. Pela teoria da evolução vemos a formação do homo sapiens, em termos gerais, principalmente por causa do crânio e seu respectivo cérebro. Isso pode soar abstrato, mas a intenção é apontar o ínicio da questão.
E a subjetividade? Talvez ela tenha surgido com as coisas que o ser humano não explicava, como os fenômenos naturais, dando origem à mitologia; e também talvez até com os sentimentos, iniciando idéias metafísicas como o amor por exemplo.
Não quero dizer que toda subjetividade seja uma resposta à racionalidade, tentando substituir o papel da ciência e etc., mas que com a subjetividade, houve a criatividade e também, como se não houvesse somente a racionalidade, algo além.
Já deu para perceber o que sinto de complicado só de tentar explicar o assunto né?

Enfim, onde quero chegar é atualmente, obviamente, depois do Iluminismo, da Idade Moderna; onde o espaço da racionalidade só cresceu.
E onde fica a subjetividade nos tempos atuais? (considerado pós-modernidade para alguns).
Com a tecnologia e ciência, a mitologia/religião perdeu bastante de sua força. A idéia do amor e dos sentimentos também ficou relativamente fraca; com a biologia e psicologia tomando seu lugar.
Longe de fazer apologia à religião, porque esse assunto é complexo, mas somente a questão da subjetividade.

Talvez a subjetividade tenha sobrevivido através da arte.
A arte incorpora inúmeros aspectos da subjetividade, e é quase impossível desassociá-los; apesar de haver discórdia entre alguns, e até artistas com movimentos de expressão específicos fazendo isso.
Talvez a questão se pareça com algo já apresentado por Nietzsche (crítica da racionalidade).
Mas e como fica a subjetividade? Incorporada na arte? E será que a arte também pode ser ameaçada pela racionalidade e nós partirmos para um Admirável Mundo Novo?

A racionalidade de fato trouxe inúmeras vantagens, mas talvez uma desvantagem evidente seja a carência da subjetividade. Esse é o maior ponto na minha opinião. Mas talvez nos termos do ínicio do texto, racionalidade e subjetividade sejam uma dualidade; diferentes mas essenciais no conjunto.
Pelo que mostrei, a racionalidade tem muito mais espaço do que o subjetivo, por isso a apreensão de sumir.
Eu gosto de pensar como Schopenhauer quando analisa a estética, e diz que esta, a arte, não tem relação com os princípios racionais, chamados princípios de razão por ele. Embora ele chame a estética, ligando-se a essência do mundo, por si só, sem nenhuma interferência, como objetividade, mas isto não vem ao caso.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Status

Desde quando uma roupa ou algum objeto propriamente dito, diz tanto sobre uma pessoa que é quase sustentável por si só, como base de algum julgamento? Acho que existe análise através de probabilidade, que não considera por si só, porque leva em conta o erro; e existe a velha história capitalista que reduz a vida da pessoa aos objetos que ela possui.
Quero dizer que os objetos não são necessariamentes tão determinantes, mas que obviamente possuem alguma ligação com o usuário.
Há o problema do julgamento, muitas vezes determinista destes casos, e ao mesmo tempo do outro lado há as pessoas que perdem suas identidades e constroem-na com as posses.
Por exemplo, quando as pessoas perguntam para as outras "quem elas são?" a resposta muitas vezes envolve seu trabalho/ocupação, e seus objetos até. Então quer dizer que os trabalhos, etc. precedem eles, e a própria existência deles?
Talvez seja como Sartre, quando diz que nossa existência precede nossa essência. Primeiro nós surgimos para depois tornarmos sujeitos.
Não deveria ser nosso trabalho ou nossas posses que diriam sobre a gente, mas nós, os sujeitos antes surgidos.
Não é como se o trabalho escolhesse nossa pessoa à certo ponto do caminho, mas nós sujeitos antes, que escolhemos tais.
O nosso trabalho teoricamente é consequência do que se formou do nosso ser. Primeiro nós somos para depois trabalharmos. Nossas posses, teoricamente são efeitos da causa primária que seriam nós mesmos.
Vale ressaltar o porquê do uso do "teoricamente".
Na sociedade capitalista existe um fetiche sobre a mercadoria, existe uma ênfase muito grande à imagem e também existem ideologias dominantes.
Então ao invés da pessoa ser para depois escolher, ela carece do "ser", e transfere a identidade ao objeto, prezando à imagem, o espetáculo, independente de qualquer coisa. Pelo mesmo motivo de carecer do "ser", ela acaba convencida que o que a ideologia dominante lhe indica é o que realmente quer, e então alienação.
E por que as pessoas carecem do "ser"?
O que lhes falta? O que acontece?

Acontece que faz parte do sistema.
As pessoas não podem ser completamente livres, porque isso vai contra a manutenção do sistema.
E quase como um mecanismo de defesa, de preservação do sistema. E ele tem de ser sutil, as pessoas não podem perceber isso explicitamente e por si só. Imagina se isso acontece? O que haveriam de loucos irresponsáveis perseguindo a liberdade? O que haveriam de lunáticos que trariam para discussões, novos e aperfeiçoados sentidos da palavra Revolução?

Patéticos.

E essa história do status, também podemos dizer, preserva o famoso espírito competitivo que é essencial à natureza capitalista.
Claro que temos de competir! Nós não somos iguais, não pertencemos a uma mesma classe, ou talvez, nem partilhamos de uma essência existencial!

Nossa própria existência gera a nossa decadência!

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Convenções Sociais

Mais um evento social.

Os indivíduos seguem a regra já no planejamento. Qual horário é interessante? Qual local? Que roupa usar? etc.
As pessoas vão chegando. E sempre aquela história.. se você usa calça, aperto de mão, se você usa saia, beijo no rosto..
E o contrato social continua intacto.

A partir de que momento você concordou com esse contrato, com essas convenções?
Se você está em um grupo de trabalho, colegas, enfim; existem forças que te indicam à participar do contrato. Você é arrastado para dentro dessa repetição. Talvez se sinta incomodado por ter que interagir com estes que te conhecem superficialmente, ou quem sabe, se sinta incomodado por somente ter esse gesto que liga vocês.
Mas com os amigos mais íntimos não há incômodo, mesmo assim, você precisa participar da convenção social para ser considerado amigo?

Se você entrega um presente, abre a questão da reciprocidade, "pedindo" que haja uma retribuição gestual, ou material, como outro presente por exemplo.
Se você anuncia um "bom dia" e pergunta o infame "tudo bem?" você, geralmente não quer saber de fato se a pessoa está positiva fisicamente ou psicologicamente; seria uma cordialidade.
Mas se isso não for feito, parece querer o oposto, uma "descordialidade", mas não necessariamente.
A não-reprodução dessa convenção social é vista como uma "desordem" e que faz o oposto do que a convenção tem sentido.
A questão não é que "escolho não reproduzir a convenção, e por acreditar nela, pretendo reproduzir a negativa do sentido inicial"; mas "não reproduzo por achar questionável e efêmero o meio a ser reproduzido"; prefiro ser cordial de outras maneiras, por exemplo.

Talvez esse contrato social esteja intrínseco em cada um desde o nascimento. Ou está tão enraizado na sociedade que durante a formação do indivíduo, essa tradição torna-se inquestionável.
Mas essa é mais uma daquelas questões, que não importa para onde se volte para olhar ela continua te encarando. Ela está lá, caso escolha ver ou não; como mais uma tradição que é transmitida e reproduzida sem questionamentos.
Essa transcedência racional-crítica é o primeiro passo para nos revolucionarmos; talvez até nos elevarmos da massa e procurarmos um futuro melhor. Muito ideal? Não acho. É racional e cada um pode fazer sua parte, sem necessariamente depender dos outros, mas procurar passar para o além do indivíduo.

Claro que a idéia do Contrato-social-político pode ser buscada em Hobbes ou Rousseau, mas tento trazer para o dia-a-dia.
Coisas como horário para almoço, roupas, cumprimentos, etc. fazem parte das convenções sociais, mas não são muitas vezes consideradas como regras.

São regras implícitas, mas não deixam de ser regras.
Essas coerções sociais influenciam fortemente no agir em sociedade e na formação individual; e justamente por serem implícitas, a atuação de tais, podem ser consideradas como inexistentes; são difíceis de serem vistas, observadas, percebidas.

Deixo claro que não critico todo tipo de convenção social. Há por exemplo, tipos que são super interessantes; como a fila formada espontaneamente para um ônibus. Há sempre alguns crápulas que eventualmente cortam a fila, mas nem sempre conseguem; porque a própria fila impede. E não há nenhuma regra explícita dizendo para não haver cortes, mas há uma moralidade e coerções sociais que fazem isso.
E a questão pode ser, de onde surgiu essa coerção?
Porque de fato é interessante a possibilidade de haver uma "ordem" sem uma hierarquia pré-estabelecida.
Não há um poder superior e isso pode ser considerado anarquia, mas a sociedade não deixa de existir.
Talvez a sociedade seja reconstruída e um novo tipo de sociedade seja criado; enfim; deixo essa questão futuramente para Marx.

Como todo questionamento filosófico, tanto interessa-me a origem de tais aspectos, quanto às consequências que estão envolvidas.

Esse "contrato social", as convenções sociais; me incomodam de alguma forma, mas não necessariamente por ser contra, mas mais por ser algo não-questionável atualmente.
Algo tão "dogmático" assim, atrapalha talvez por impedir a vida bem analisada (ênfase nos gregos).
E o questionamento sistemático de tudo é uma das bases da filosofia - nem sempre pelo lado mau da situação. E que apesar de inúmeros fatores, liberta.


terça-feira, 5 de maio de 2009

Waking Life

Revi o filme Waking Life esses dias.

Desde a primeira vez que o vi eu achei o filme interessante. Talvez minha percepção tenha mudado, a ponto de achar que o filme é melhor agora depois de tanto tempo.
Mas creio que nas primeiras vezes, eu entendia melhor algumas discussões, como se eu tivesse lido 30 capítulos de um livro, e 6 deles tenham realmente me intrigado. Daquele jeito que você pára pra pensar sobre algum assunto; ou que talvez traga novas perspectivas; enfim.. não passaram batidos.
Mas desta vez acho que foi diferente - acho que principalmente eu tenha mudado - porque senti que percebi muito mais à importância do filme. Não quero dizer que cheguei à uma conclusão sobre o filme. Mas que me senti envolvido de uma forma diferente das anteriores - talvez isso faça parte do filme mesmo (ou qualquer um), cada vez que você o assiste percebendo de formas variadas e dependente de seus momentos específicos.

O filme Waking Life tem vários aspectos que dou ênfase. Começando pela arte visual.
O filme foi gravado com pessoas reais, mas teve uma excessiva pós-produção com artistas diferentes, fazendo animações por cima da filmagem. O filme tem uma cara diferente, e ainda no decorrer das cenas os estilos de imagens mudam, mostrando interpretações diferentes de cada artista.
O filme no geral discorre a partir do conceito de Sonho Lúcido (um sonho em que o sonhador tem a consciência de estar sonhando e poderia até controlá-lo de alguma forma), no qual o personagem principal dentro de um; tem conversas diversas sobre assuntos diversos com vários personagens.
É um filme complicado.
São conversas filosóficas, algumas envolvendo assuntos complexos, outras nem tanto. Eu chamaria de uma 'porrada intelectual'.

Você mal tem tempo para respirar ou digerir um assunto, e começam outro. Por isso a experiência de revê-lo torna-se muito boa.
Em alguns momentos eu sinto um leve cheiro de pseudointelectualismo (assunto que deixo pra falar melhor em outro momento), mas nada que atrapalhe o decorrer da sequência toda.

Enfim, não tenho a intenção de simplesmente fazer disso uma crítica sobre o filme.
Gostaria de recomendá-lo obviamente, mas gostaria de usá-lo como contexto ou pretexto para outros assuntos.


Uma das coisas que o filme de alguma forma incita, é o viver.
Ele apresenta tanto questões filosóficas do dia-a-dia quanto aparentemente teóricas. E as questões do dia-a-dia te fazem perguntar sobre a vida - não necessariamente o sentido dela - e acho isso interessante. Te mostra visões que talvez sejam novas, fala sobre o viver a vida quase de forma poética (existe um momento em que um personagem fala sobre um aspecto da morte e comenta que é um assunto discutido há tempos por filósofos e poetas, de alguma forma, aproximando-os), o que também é interessante; mostra um outro lado da filosofia, que não necessariamente é extremamente racional ou 'fria'; mas também é artística, é vivida.

A filosofia pode funcionar como forma de abrir a mente do indivíduo, fazendo-o querer viver experiências diversificadas, questionando, procurando melhoras, etc. Essa parte subjetiva é artística.
A filosofia pode ser considerada como a arte de pensar, mas envolve muito mais do que isso.
O pensar por si só, não é filosofia, mas a arte de pensar, as consequências que trazem são parte do que a filosofia pode ter como papel.


Outro assunto, é o da arte em si.
Da mesma forma que eu assisti o filme da última vez e o percebi de uma forma diferente, a arte no geral é filtrada, não só pelas idéias do indivíduo, pelo contexto social, pela formação; mas também é filtrada pelo momento. Não é necessariamente um momento fisicamente bom que daria uma boa interpretação de uma obra - porque o contrário também pode ser artísticamente bom - mas também depende do psicológico, do contexto, do meio; enfim, são inúmeros fatores momentâneos que influenciam na interpretação de uma obra.
O instante faz parte da recepção da obra. Se uma obra for tão boa, sua recepção muda, - talvez não essencialmente - mas a sua dinâmica com realidades diferentes, momentos diferentes, até interpretações, dá um aspecto maior à tal.
Claro, pode haver extensas análises racionais de obras - o que não deixa de ser uma interpretação - mas momentaneamente, instataneamente, a boa obra boa tem dinâmica. Não quero dizer que as obras simples não sejam boas, mas mesmo estas podem ter dinâmica; e se não tiverem, não necessariamente serão classificadas como ruins. Também não quero dizer que tudo o que é dito pode estar certo, seria muito subjetivo. Há um senso crítico.

Falando em senso crítico, tudo o que eu escrevo é uma opinião. Por isso apoio os comentários.
Se você não concorda, sinta-se livre, mostre argumentos.
Se concorda, também sinta-se livre, mas também mostre argumentos.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Espaço-Tempo

Sabe aquela sensação que temos que nunca mais vamos rever aquela pessoa desconhecida que está perto da gente em lugares e momentos específicos?

A gente percebe uma diversidade enorme de pessoas, sendo que a única ligação que temos é a coincidência momentânea no espaço-tempo.
Se não fosse por aquele exato momento naquele exato lugar, você poderia nem estar olhando para aquela pessoa, mas para qualquer outra.

E isso não tem nada a ver com o que chamam de "magia do amor", mas é uma magia da probabilidade, do acaso.
Você pode parar a qualquer momento para sentar no banco da praça, e verá que há muitas pessoas, e pessoas diferentes (ou seriam iguais?), e a chance de você trocar alguma idéia com algumas dessas pessoas ou de revê-las, é pequena.
Primeiro porque é uma questão matemática, simplesmente há muitas pessoas e você é só um. Segundo porque atualmente há todo um individualismo exagerado. A lógica capitalista promove a competição entre as pessoas e o comum é "cada um cuida do seu", ou pior ainda, "não te devo coisa alguma". E isso afasta as pessoas quase criando 'muros' entre elas, e de alguma forma, instituições como Família, Igreja e Estado, tomam força segurando as pessoas.

A questão matemática (da probabilidade social, vamos dizer) torna-se mais interessante quando você revê a pessoa em questão, por exemplo, sempre que você passa na frente daquela banca ou pega o ônibus em determinado horário. Você não tem nenhuma ligação com a pessoa (talvez tenha segundo algumas teorias) e só o espaço-tempo de vocês os unem. A pessoa pode ou não ser da mesma classe social que você, pode ou não pensar como você; enfim, são inúmeras possibilidades.

E entre pensamentos dialéticos, aponto para dois caminhos gerais.

Para um deles, cito por cima o 'dilema do porco-espinho'.
O dilema - hipotético - descreve uma situação em que um grupo de porcos-espinhos procuram aproximar-se em razão de compartilhar calor durante o inverno. No entanto, quando alcançado, eles não podem evitar de se machucar com o seus espinhos, então eles precisam afastar-se. Embora eles compartilhem a intenção de uma relação próxima e recíproca, isso não acontece por razões que eles não podem evitar.

Por esse lado, proponho a questão do problema da sociabilidade e certa ênfase no comportamento solitário, por Schopenhauer.
Para Schopenhauer a sociedade age quase como corrompedora do indivíduo. Portanto o insociável seria alguém que não precisaria dela, e para ele, ter em si mesmo o bastante para não precisar da sociedade já seria uma grande felicidade, como tranquilidade intelectual. Citando:

" Pois é na solidão, onde cada um está entregue a si mesmo, que se mostra o que ele tem em si mesmo. Nela, sob a púrpura, o simplório suspira, carregando o fardo irremovível da sua mísera individualidade, enquanto o mais talentoso povoa e vivifica com os seus pensamentos o ambiente mais ermo. "

Epicuro também propõe uma via parecida.
Para ele a felicidade está no geral através do afastamento da dor.
A receita para boa vida dele - tetrapharmakos - diz; " os deuses não são temíveis; a morte não nos traz riscos; não é difícil atingir o bem nem suportar o mal com coragem. "
A filosofia dele é praticamente minimalista, nos dizendo que não precisamos de muito para sermos 'felizes' (coloco as aspas, porque o conceito dele de felicidade obviamente não é o mesmo do senso comum). Só que Epicuro acaba não sendo tão solitário quanto Schopenhauer, para ele a amizade é algo importante, essencial. Como se precisassemos mesmo de pouco, materialmente e socialmente falando. Somente o essencial.

Existe mais um conceito que gostaria de citar, que quase encaixa-se com a parte do outro pensamento dialético. O Übermensch de Nietzsche (Além-Homem para alguns, ou Super-Homem para outros).
O Übermensch é quase uma meta para a humanidade, mas ao mesmo tempo uma crítica.
Justamente onde aponta a meta é a crítica em si. - parte da meta pode ser simplificada com uma superficialidade minha, como a procura de novos valores, quase um ser humano auto-suficiente (não quero me aprofundar muito no conceito, tanto por divergências dos que estudam, quanto a minha própria carência de conhecimento sobre este tema em particular, mas uso uma breve idéia do conceito para contexto no texto) -
Quer dizer que o que acontece não está certo. E esse sentimento pode tanto levar para um afastamento às pessoas, mas ao mesmo tempo um tipo de ativismo, uma proposta de melhora. Você pode querer simplesmente tentar ser esse Übermensch e não se importar com mais nada. Ou procurar formas de propagar o conceito.
O que chega ao outro lado da dialética.

Se por um lado até agora eu estava falando de um retraimento social, agora queria abordar o oposto.

Sócrates também indicava uma 'meta' puramente racional, vamos dizer, à liberdade crítica de cada um. Eu chamaria de ativismo moral-racional. Para Sócrates nós temos responsabilidade de sermos 'filósofos' - seres pensantes - e a moral é repetidamente criticada por ele. Temos essa 'aversão' ao próximo, mas ao mesmo tempo procuramos melhorá-lo, dar condição para 'partar idéias' novas.

Schopenhauer também, indica além da anti-sociabilidade a compaixão humana. Para ele a existência teria como sentido, a dor. E através disso teríamos compaixão com os outros, quase poética, de se temos uma essência igual, sentimos as mesmas dores.

" ... Esse homem, chegado ao ponto de se reconhecer a si mesmo em todos os seres, considera como seus os sofrimentos infinitos de tudo quanto vive, e apodera-se, dessa forma, da dor do mundo.
Nenhuma miséria lhe é indiferente, todos os tormentos que vê e tão raramente lhe é dado amenizar, todas as angústias de que ouve falar, inclusive aquelas que lhe é possível conceber, perturbam-lhe o espírito como se fosse ele a vítima.
Insensível às alternativas de bens e de males que lhe sucedem em seu destino, livre de todo egoísmo, penetra os véus da ilusão individual: tudo quanto vive, tudo quanto sofre, está igualmente junto de seu coração.
Imagina o conjunto das coisas, a sua essência, a sua eterna passagem, os esforços vãos, as lutas íntimas, e os sofrimentos intermináveis; para qualquer lado que se volte, vê o homem que sofre, o animal que sofre, e um mundo que se desvanece eternamente.
E une-se tão estritamente às dores do mundo como o egoísta a si mesmo. "

E juntamente com Sócrates, outro que vai contra o retraimento é Marx.
Cito: "Os filósofos se limitaram a interpretar o mundo, diferentemente, cabe transformá-lo".
Marx propõe metas, e quer dizer, que não devemos levar uma vida socialmente passiva, mas como Sócrates, ativa (guardadas suas devidas proporções).
Marx tem uma crítica ferrenha de tudo, mas com o ativismo, propõe mudanças. Um futuro em que talvez haja uma libertação de todos os homens.


...


Depois da pincelada aos pensadores, volto à questão do ônibus, do lugar público.

Será que não há uma síntese dessas duas vias?
Acho interessante ambas as vias, considero possível alguém ser anti-social e também ser ativista. Talvez a anti-sociabilidade se encaixe num plano mais íntimo de relação (dependendo de cada um), ou no aspecto de sociedade no geral com suas coerções sociais, suas 'regras'.
A visão de Epicuro, chega a ser minimalista e até individual. Mas acho que com ela, apreciamos o que dizem ser 'as pequenas coisas'; como a amizade e a questão do consumir (não apreciação no caso).
Sócrates e Marx apontam à critica das 'regras sociais'. E Schopenhauer fala, sobre talvez, uma visão mais íntima.

Então, aquela pessoa que você observava - se você também concorda - você pode criticá-la visando à melhora, mas também pode escolher não se aproximar.
Se escolher se aproximar pode não ser exatamente nas vias das convenções sociais e suas regras.

Talvez a questão seja essa mesmo pra mim. Sem uma proximidade geral propriamente dita (que nos tempos atuais torna-se complicada), mas com ativismo-compaixão-empatia entre as pessoas.




OBS: Nossa, o texto ficou grande.. No meio do texto, eu tentei esclarecer alguns pontos dos pensadores, para talvez, ser bem claro e tentar incentivar um aprofundamento sobre eles. Espero que o texto não tenha efeito contrário.

domingo, 26 de abril de 2009

Preâmbulo

Não sei exatamente porque decidir começar o blog.

Geralmente eu costumo pensar bastante sobre tudo, e cá estou eu perguntando, qual o sentido de um blog, ou de alguém escrevê-lo?

Pode ser que alguém seja motivado à escrever por alguma idéia narcisista, ou para ganhar dinheiro, ou por tédio, ou quem sabe, simplesmente fazer algo.

Há tempos passou pela minha cabeça a idéia de criar um blog, se eu era capaz, sei lá.. Mas já naquela época não passou por algum crivo superficial que eu tenha dado, e deixei de lado.
Atualmente me vi escrevendo de novo para outras pessoas e eram assuntos no geral, políticos, filosóficos, e as vezes até, coisas 'bobas' mas que pessoas que leram e por algum motivo disseram que gostaram da forma que escrevi.
Normalmente eu não ligo pra isso, porque o que adianta eu escrever bem para uma outra pessoa se eu próprio não me sinto confortável com o que escrevo?
Mas percebi que apesar de tudo, estava me sentindo mais confortável ou mais motivado para escrever e talvez isso tenha sido um impulso para retomar aquela idéia de fazer um blog.
Mas volto; pra quê?

-Eu tenho o quê falar?
-Todo mundo têm o quê falar.
-Se todo mundo têm o quê falar, o que você tem para que as pessoas possam te escolher ao invés dos outros?
-Não sei. Diferença talvez? Porque uma coisa é verdadeira, apesar de haver grupos e grupos com algumas características que os unificam, cada indivíduo tem sua diferença.
-Mas esses mesmos indivíduos diferentes têm suas semelhanças. Portanto sua diferença é essencial?
-Minha diferença pode ser normal, ou pode ser pequena no geral, na probabilidade.
-Se minha diferença é pouco comum, minha semelhança torna-se diferente?

...

Enfim, posso pensar humildemente que estou começando a escrever, simplesmente por escrever, talvez criar uma prática, ou talvez testar a teoria de que ou escrevo bem ou escrevo de forma clara sobre certos assuntos.

Eu ainda não sei como funciona, mas para quem a seção de comentários for aberta, espero que possam opinar sobre o que quiser, talvez continuar alguma discussão que eu tenha começado em um desses tópicos, sei lá.
Estou sendo otimista ao falar com um pseudo-público-leitor na minha primeira postagem. E acho que isso não condiz de verdade comigo, mas reconhecer que isso aconteceu está mais à minha cara.

Afinal, se até Schopenhauer que era um dos maiores anti-sociais que ouvi falar escrevia, que tal eu tentar também?