quarta-feira, 30 de junho de 2010

"Praça"

Como não atualizei o blog por um bom tempo, decidi colocar um dos meus textos que estavam guardados por aqui, mas que não achava que se encaixavam com a idéia inicial de escrita do blog, a não ser que é o mesmo autor dos demais textos.
Para diferenciar o estilo, coloquei aspas. Se é algo mais subjetivo se é algo mais pessoal? Não sei. Deixo isso pra quem quiser gastar um pouco do tempo.


...


Eu sentei na praça para ler e escrever.
Era o único naquele momento por lá, enquanto alguns caminhavam, outros trabalhavam, e eu esforçava para poder virar a página, tentando entender algo mais.
A solidão era relativa, sim, não se ouvia minha voz; a não ser por algum pensamento alto; eu não tinha com quem conversar, e meus amigos haviam me dado cano, com certeza. Mas ao mesmo tempo, meu livro e meu caderno de anotações eram meu "canal com o mundo". Eu sei que o caderno de anotações é simbólico, meia dúzia daquelas palavras cheias de ânimo, vão ser de fato lidas por alguém. Mas a cabeça e a mente são exercitadas para tentar expôr alguma idéia, utilizar da linguagem, da clareza, para transmitir alguma informação, nem que fosse, para eu próprio ler outra hora e poder compreender.
... e o livro?

Com ele senti-me confidenciando idéias filosóficas de alguém, de um tempo distante, em outro contexto histórico-cultural.
Enquanto o autor me oferece algo para pensar, me acrescentar, eu ofereço para ele a continuidade do seu pensamento na história; já que dela; nada resta senão o pó não é?

O autor é um tipo de amigo, que no final das contas pode-se depender dele. Ele pode decepcionar com alguma idéia? Mas é claro, só que obviamente as expectativas e impacto de alguém que você lê, e que muitos leram antes de você, são bem menores do que as expectativas que pode-se ter com alguém no estado físico e próximo de você.

Logo no estado em que estava, encontrava-me, em parte solitário e em parte acompanhado.
Em parte eu estava calado, e em parte fazia discursos com todas as minhas forças, em pequenas folhas de papel.
Em parte caminhava para a morte envelhecendo alguns minutos, horas, naquele banco, e ao mesmo tempo, produzia o que poderia ser meu pós-vida, minhas insignificantes palavras que poderiam ser lidas, ou com sorte, participar de algum processo de reciclagem de papel, metamorfoseando de uma forma bizarra e se tornando o palco para pensamentos pretensiosos de mais um solitário do mundo.

Um comentário:

  1. Interessante o abismo que existe entre uma idéia flutuando entre os pensamentos e a forma tão definitiva de passar ela no papel...
    Entre deixar uma contribuição para a 'história', talvez como num diálogo entre duas pessoas, e pra si mesmo...
    tomando um caderno de notas como um 'lugar' para transcrever seu interior, onde não vigoram leis sociais etc, ele se transforma numa ferramenta poderosa pro auto-conhecimento.
    Bom, sendo um amigo - o autor - alguém de quem vc pode depender, ou pelo menos depender de alguma forma de suas idéias, pensamentos seus que afluam mais tarde baseados no que foi lido não deixam de ser genuinamente seus :) afinal, dentro da mente só nos resta o nosso próprio raciocínio e imaginação, baseado em algo que nos foi exposto anteriormente, mas fruto de nossas próprias conclusões através da 'reciclagem' do que aprendemos.
    Assim, penso que a continuidade do pensamento de um outro homem acaba sendo nada mais que seu próprio raciocínio sendo construído, original.

    Thi, já que foi deixado à vontade de quem quiser 'gastar um pouco de tempo', ou direcionar esse tempo à vc, dxei meu comentário então...
    nos falamos qq dia ae! :D
    Bjo, Flá.

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