sexta-feira, 30 de setembro de 2011

"A reclusão esquecida"

O homem era recluso e não tinha tempo para diversões, vivia achando que estas faziam perder o tempo e que o sentido de sua vida se remetia sempre a livros e atividades introspectivas. Para ele toda atividade que se envolvia com um quê de "social" acabava expondo algumas fraquezas que ele poderia apresentar ou coisas que lhe incomodavam profundamente.

No dia-a-dia sua rotina consistia em caminhar pela manhã antes do trabalho, e após, suas noites se revezavam entre leitura, escrita, relaxamento e por ai vai, tudo era bem cronometrado. Até que inspirado por um filme que mostrava um personagem muito diferente dele próprio, resolveu usar o olhar crítico e clínico que tanto praticava nas pessoas ao redor, em si mesmo.

sábado, 24 de setembro de 2011

"Lágrimas transparentes"

Existem coisas que não percebemos ao nosso redor porque de certa forma esperamos depois de uma repetição que as coisas continuem acontecendo da mesma forma, e normalmente isso acontece dentro do contexto da rotina. O que eu tento fazer é, quando possível, fugir desse "olhar distraído" e tentar prestar atenção nos detalhes, porque conseguem ser belos, e também porque há muita coisa despercebida neste caos do ambiente urbano que leva à estagnação do olhar. 

Mas não é fácil, passa tanta coisa pela nossa cabeça e quando se percebe já se está dentro de uma situação que você não sabe bem porque foi parar lá e a partir daí você pode resolver redobrar sua atenção, mas pode ser tarde demais.

Eu estava no meu trajeto usual pela cidade quando passei por uma praça pública e havia acabado de desligar o fone de ouvido para ver se meus pensamentos clareavam, quando eu decidi reparar nos detalhes. E ali teve uma imagem que me dilacerou.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

"O silêncio caloroso"

O trajeto do ônibus e seu fator constante era o cenário de vários rostos cansados e que pareciam tão inseridos em suas rotinas que as vezes pareciam que se perdiam lá. O mesmo motorista, os mesmos passageiros, as ruas e os horários, tudo parecia tão comum e ciclíco que as mudanças e as novidades demoravam pra chamar atenção. E foi assim que eu acho que percebi a presença de uma nova garota entre os demais cidadãos uma das vezes.

Eu fui reparar inicialmente porque sua beleza se destacava para aqueles que reparavam nos detalhes fugindo da rotina, coisa que eu estava tentando. E apesar dos passageiros constantes, acontecia que os "lugares preferidos" eram escolhidos por pessoas eventuais desse trajeto que era também em um horário estratégico, perto da hora do almoço. E meu único contato era com o olhar.

Encontrava tantas vezes com ela que eu parecia estar construindo internamente um afeto, tanto que uma vez me peguei pensando se ela iria perder o ponto de descida e quando começou a levantar apareceu uma pessoa de idade vagarosa atrapalhando o caminho dela, eu sem pensar estiquei o braço e apertei o botão para que o ônibus parasse no próximo ponto, como se eu já estivesse ajudando-a. Sem haver trocado uma palavra que fosse.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

"A verdade"

Outro dia desses um amigo foi comentar de uma pessoa que conheceu. Eu que não sou daqueles de fazer amizade a todo momento pensei "deve ser mais uma pessoa." Até que chegou o momento que eu a conheci meio que sem querer, em um evento desses da cidade em que tocava um grupo de blues e as pessoas saiam falantes e sorridentes dele.

Eu tinha ido sozinho no evento mas encontrei o meu amigo e essa pessoa lá, obviamente a primeira coisa que a gente repara é a aparência da pessoa e a cabeça já vai julgando. Uma grande pena porque pela aparência dela os conceitos começaram a se formar me fazendo suspeitar que uma pessoa bela poderia ter o que outras pessoas belas tem, como a cabeça rasa e outras coisas que seguem o estereótipo. A partir dai procurei evitar esse pensamento.

Os dias foram passando e eu tive a oportunidade de trocar ideias com ela mesmo que timidamente e pela internet. Parecia que ambos, pessoas fechadas, iam introduzindo um pouco da sua visão de mundo, de acordo com a necessidade das palavras. Entre os sarcasmos e as ironias que iam aparecendo a gente percebia que as palavras sinceras estavam lá e por isso meio que descobrindo o intelecto do outro, descobrindo de onde vem tal pensamento, como a pessoa pensa assim, ambos se respeitando e sem evitar, se analisando.