sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

"Sorriso"

Sentei-me no ônibus.
Distraído com a paisagem urbana-cotidiana, demorei para perceber um grupo de pessoas que dividiam o transporte coletivo comigo.
Pareciam próximas, mas no sentido de "conversamos como amigos porque dividimos uma classe" e que ao chegar no ponto exato, cada um seguiria sua vida. Mas um membro do grupo me chamou mais atenção do que os outros.
Era um rapaz de óculos, mas não condizia com o estereótipo de inteligente, porque a todo momento estava sorrindo. Mas era um sorriso diferente, os dentes encobertos pelo aparelho se apresentavam a todo momento.

Por mais que imaginasse não conseguia me enxergar no seu lugar. Felicidade perto dele, parecia algo banal, até surreal.
Será que ele já teve alguma tristeza? Ou ainda, será que ele abriu os olhos e viu o mundo em que vive?
Ele parece não valorizar o que poderia ser o "estado feliz", porque era tão comum, quanto os movimentos peristálticos do seu intestino.
E ao mesmo tempo parecia contraditório com o mundo em que compartilhamos, se alguém é assim, é porque tem alguma visão distorcida de mundo.

O mundo não é arco-íris e ursinhos, longe disso. As pessoas não satisfazem suas vontades, as pessoas tem sufocadas, inúmeras vezes, seu potencial humano. As pessoas sofrem.
Então comecei a sentir pena dele, por não conseguir aproveitar a felicidade no mundo.
Para mim, creio que a vida dele deve ser um tédio completo.

A vida e sua mágica está em se conseguir enxergar alguma felicidade no meio de tanto caos, de tanto sofrimento, miséria, enfim; ao invés da felicidade ser algo subestimado, e até encontrado em qualquer vitrine; nós poderíamos trabalhar para tal, valorizar.
Quem dera a visão dele - ainda que distorcida - seja melhor do que a minha.
Quem dera Prometeu não tivesse nos entregado o fogo.
Quem dera se não raciocinássemos e não tivéssemos angústia (o que pela primeira vez trouxe para algum ser, a consciência da morte).
Quem dera se fôssemos que nem ele.
Mas não somos.

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