quinta-feira, 21 de maio de 2009

Convenções Sociais

Mais um evento social.

Os indivíduos seguem a regra já no planejamento. Qual horário é interessante? Qual local? Que roupa usar? etc.
As pessoas vão chegando. E sempre aquela história.. se você usa calça, aperto de mão, se você usa saia, beijo no rosto..
E o contrato social continua intacto.

A partir de que momento você concordou com esse contrato, com essas convenções?
Se você está em um grupo de trabalho, colegas, enfim; existem forças que te indicam à participar do contrato. Você é arrastado para dentro dessa repetição. Talvez se sinta incomodado por ter que interagir com estes que te conhecem superficialmente, ou quem sabe, se sinta incomodado por somente ter esse gesto que liga vocês.
Mas com os amigos mais íntimos não há incômodo, mesmo assim, você precisa participar da convenção social para ser considerado amigo?

Se você entrega um presente, abre a questão da reciprocidade, "pedindo" que haja uma retribuição gestual, ou material, como outro presente por exemplo.
Se você anuncia um "bom dia" e pergunta o infame "tudo bem?" você, geralmente não quer saber de fato se a pessoa está positiva fisicamente ou psicologicamente; seria uma cordialidade.
Mas se isso não for feito, parece querer o oposto, uma "descordialidade", mas não necessariamente.
A não-reprodução dessa convenção social é vista como uma "desordem" e que faz o oposto do que a convenção tem sentido.
A questão não é que "escolho não reproduzir a convenção, e por acreditar nela, pretendo reproduzir a negativa do sentido inicial"; mas "não reproduzo por achar questionável e efêmero o meio a ser reproduzido"; prefiro ser cordial de outras maneiras, por exemplo.

Talvez esse contrato social esteja intrínseco em cada um desde o nascimento. Ou está tão enraizado na sociedade que durante a formação do indivíduo, essa tradição torna-se inquestionável.
Mas essa é mais uma daquelas questões, que não importa para onde se volte para olhar ela continua te encarando. Ela está lá, caso escolha ver ou não; como mais uma tradição que é transmitida e reproduzida sem questionamentos.
Essa transcedência racional-crítica é o primeiro passo para nos revolucionarmos; talvez até nos elevarmos da massa e procurarmos um futuro melhor. Muito ideal? Não acho. É racional e cada um pode fazer sua parte, sem necessariamente depender dos outros, mas procurar passar para o além do indivíduo.

Claro que a idéia do Contrato-social-político pode ser buscada em Hobbes ou Rousseau, mas tento trazer para o dia-a-dia.
Coisas como horário para almoço, roupas, cumprimentos, etc. fazem parte das convenções sociais, mas não são muitas vezes consideradas como regras.

São regras implícitas, mas não deixam de ser regras.
Essas coerções sociais influenciam fortemente no agir em sociedade e na formação individual; e justamente por serem implícitas, a atuação de tais, podem ser consideradas como inexistentes; são difíceis de serem vistas, observadas, percebidas.

Deixo claro que não critico todo tipo de convenção social. Há por exemplo, tipos que são super interessantes; como a fila formada espontaneamente para um ônibus. Há sempre alguns crápulas que eventualmente cortam a fila, mas nem sempre conseguem; porque a própria fila impede. E não há nenhuma regra explícita dizendo para não haver cortes, mas há uma moralidade e coerções sociais que fazem isso.
E a questão pode ser, de onde surgiu essa coerção?
Porque de fato é interessante a possibilidade de haver uma "ordem" sem uma hierarquia pré-estabelecida.
Não há um poder superior e isso pode ser considerado anarquia, mas a sociedade não deixa de existir.
Talvez a sociedade seja reconstruída e um novo tipo de sociedade seja criado; enfim; deixo essa questão futuramente para Marx.

Como todo questionamento filosófico, tanto interessa-me a origem de tais aspectos, quanto às consequências que estão envolvidas.

Esse "contrato social", as convenções sociais; me incomodam de alguma forma, mas não necessariamente por ser contra, mas mais por ser algo não-questionável atualmente.
Algo tão "dogmático" assim, atrapalha talvez por impedir a vida bem analisada (ênfase nos gregos).
E o questionamento sistemático de tudo é uma das bases da filosofia - nem sempre pelo lado mau da situação. E que apesar de inúmeros fatores, liberta.


Um comentário:

  1. Creio que seja a primeira vez que posto um comentário em um blog.Isso pode soar meio estranho mas nunca achei que era algo realmente útil comentar o dia fútil das pessoas que eu nem conhecia por mera "educação" ou ,podemos dizer, por um mero contrato social.Mas visto que o autor sabera que esse comentario não é só mera bajulação,resolvi tentar.É interessante como o assunto se encaixa no meu atual cotidiano, pessoas que eu nunca vi sempre acabam me dando bom dia sem saber ao menos meu nome,começam conversas sem sentido,fazem piadas em conjunto,dão risadas da mesma piada em conjunto,etc.E é nese contexto que comecei,digamos,a minha reclusão,não por ser egoísta,mas como diz o artigo por não aceitar puramente esses tipos de relações banalizadas sem algum tipo de questionamento.Parte dessa minha nova percepção deve-se ao autor,que graças a sua enorme paciência de explicar termos filosóficos a alguém que só gostava de números conseguiu, ao menos em mim,incitar um pouco de reflexão e questionamento.Tomara que você continue postanto artigos com essa qualidade ,assim vou ter um refúgio nas minhas novas horas de reclusão aqui em são carlos.(Desculpe a demora para postar...você sabe que eu sou "meio" lerdo para computador...e não se esqueça da maratona house...ja comecei a 4 temporada)

    ResponderExcluir