terça-feira, 5 de maio de 2009

Waking Life

Revi o filme Waking Life esses dias.

Desde a primeira vez que o vi eu achei o filme interessante. Talvez minha percepção tenha mudado, a ponto de achar que o filme é melhor agora depois de tanto tempo.
Mas creio que nas primeiras vezes, eu entendia melhor algumas discussões, como se eu tivesse lido 30 capítulos de um livro, e 6 deles tenham realmente me intrigado. Daquele jeito que você pára pra pensar sobre algum assunto; ou que talvez traga novas perspectivas; enfim.. não passaram batidos.
Mas desta vez acho que foi diferente - acho que principalmente eu tenha mudado - porque senti que percebi muito mais à importância do filme. Não quero dizer que cheguei à uma conclusão sobre o filme. Mas que me senti envolvido de uma forma diferente das anteriores - talvez isso faça parte do filme mesmo (ou qualquer um), cada vez que você o assiste percebendo de formas variadas e dependente de seus momentos específicos.

O filme Waking Life tem vários aspectos que dou ênfase. Começando pela arte visual.
O filme foi gravado com pessoas reais, mas teve uma excessiva pós-produção com artistas diferentes, fazendo animações por cima da filmagem. O filme tem uma cara diferente, e ainda no decorrer das cenas os estilos de imagens mudam, mostrando interpretações diferentes de cada artista.
O filme no geral discorre a partir do conceito de Sonho Lúcido (um sonho em que o sonhador tem a consciência de estar sonhando e poderia até controlá-lo de alguma forma), no qual o personagem principal dentro de um; tem conversas diversas sobre assuntos diversos com vários personagens.
É um filme complicado.
São conversas filosóficas, algumas envolvendo assuntos complexos, outras nem tanto. Eu chamaria de uma 'porrada intelectual'.

Você mal tem tempo para respirar ou digerir um assunto, e começam outro. Por isso a experiência de revê-lo torna-se muito boa.
Em alguns momentos eu sinto um leve cheiro de pseudointelectualismo (assunto que deixo pra falar melhor em outro momento), mas nada que atrapalhe o decorrer da sequência toda.

Enfim, não tenho a intenção de simplesmente fazer disso uma crítica sobre o filme.
Gostaria de recomendá-lo obviamente, mas gostaria de usá-lo como contexto ou pretexto para outros assuntos.


Uma das coisas que o filme de alguma forma incita, é o viver.
Ele apresenta tanto questões filosóficas do dia-a-dia quanto aparentemente teóricas. E as questões do dia-a-dia te fazem perguntar sobre a vida - não necessariamente o sentido dela - e acho isso interessante. Te mostra visões que talvez sejam novas, fala sobre o viver a vida quase de forma poética (existe um momento em que um personagem fala sobre um aspecto da morte e comenta que é um assunto discutido há tempos por filósofos e poetas, de alguma forma, aproximando-os), o que também é interessante; mostra um outro lado da filosofia, que não necessariamente é extremamente racional ou 'fria'; mas também é artística, é vivida.

A filosofia pode funcionar como forma de abrir a mente do indivíduo, fazendo-o querer viver experiências diversificadas, questionando, procurando melhoras, etc. Essa parte subjetiva é artística.
A filosofia pode ser considerada como a arte de pensar, mas envolve muito mais do que isso.
O pensar por si só, não é filosofia, mas a arte de pensar, as consequências que trazem são parte do que a filosofia pode ter como papel.


Outro assunto, é o da arte em si.
Da mesma forma que eu assisti o filme da última vez e o percebi de uma forma diferente, a arte no geral é filtrada, não só pelas idéias do indivíduo, pelo contexto social, pela formação; mas também é filtrada pelo momento. Não é necessariamente um momento fisicamente bom que daria uma boa interpretação de uma obra - porque o contrário também pode ser artísticamente bom - mas também depende do psicológico, do contexto, do meio; enfim, são inúmeros fatores momentâneos que influenciam na interpretação de uma obra.
O instante faz parte da recepção da obra. Se uma obra for tão boa, sua recepção muda, - talvez não essencialmente - mas a sua dinâmica com realidades diferentes, momentos diferentes, até interpretações, dá um aspecto maior à tal.
Claro, pode haver extensas análises racionais de obras - o que não deixa de ser uma interpretação - mas momentaneamente, instataneamente, a boa obra boa tem dinâmica. Não quero dizer que as obras simples não sejam boas, mas mesmo estas podem ter dinâmica; e se não tiverem, não necessariamente serão classificadas como ruins. Também não quero dizer que tudo o que é dito pode estar certo, seria muito subjetivo. Há um senso crítico.

Falando em senso crítico, tudo o que eu escrevo é uma opinião. Por isso apoio os comentários.
Se você não concorda, sinta-se livre, mostre argumentos.
Se concorda, também sinta-se livre, mas também mostre argumentos.

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