terça-feira, 27 de dezembro de 2011

"O dia que o mundo foi embora"

Um fim de tarde de domingo é um momento em que não esperamos muito dos acontecimentos, em que tudo parece deslizar-se suavemente até que o dia acabe e comece mais uma semana, como se o presente fizesse sentido dentro da sequência do dia. Mas aconteceu que neste mesmo contexto houve uma mudança uma semana dessas, e levando a vida como se levava até então, senti algo diferente.

Terminado de assistir o filme - que eu já havia visto - que concluía no fim que apesar da vida dura, triste e ambígua de significado o que acaba sobrando é uma tentativa de direção que podemos dar à nossa vida com o amor, me deparei com uma sensação que talvez eu já tivesse encontrado mas que naquele momento tomava proporções maiores.

Sozinho em casa a primeira sensação foi a de chorar, como se fosse liberar algo, e enquanto isso se dava e aumentava, um sentimento de solidão começava a tomar conta do ambiente chegando a tal ponto em que eu não tinha mais para onde olhar que só enxergava o vazio, ou algo que aparentava o vazio e me fazia sentir que o mundo havia ido embora me deixando cair em uma espiral obscura que se mantinha firme em não me deixar sair.

O mundo havia ido embora me deixando em um estado gélido que aos poucos ia consumindo todos os meus movimentos me imobilizando cada vez mais, e parecia que eu estava em uma transição de estado da matéria como se meu corpo constituído em moléculas estivesse se dissolvendo no ar. 

Olhava para a frente e via uma rua deserta que no entorno não tinha casas mas somente construções que remetiam lares antes habitados, dando a entender que tudo o que se mostrava para mim na verdade remetia a algo que já existiu mas não estava mais, tudo era resquício de algo verdadeiro mas passado.

E da mesma forma súbita que essa epifania aconteceu ela começou a se esvaziar por si só, suas linhas perderam as formas, seus sons ficaram abafados e por fim acabaram, e meu corpo como se entendesse que nada mais fosse possível ou útil de ser feito, adormeceu.

Acordei no dia seguinte e a partir daí tentava sempre ficar atento ao mundo para que ele não desaparecesse de novo. Isso me levou a prestar atenção aos detalhes, enxergar como se cada minúscula parte encaixasse mecanicamente com a outra e que tudo era mais completo com o outro apesar de nunca se completar inteiramente. 

Com a visão através das relações e não através das partes separadas eu entendia um pouco mais das ações, das motivações, do caminhar e das causas e consequências, me fazendo ver que tudo fazia mais sentido através de tudo. Todos os detalhes eram agora parte de um contexto e isso solidificava as existências.

Assim pude encarar que o mundo não iria embora tão cedo de novo porque agora existia uma base firme para tudo isso. Foi um tempo depois e em um contexto diferente que a sensação apareceu novamente, mas com modificações.

Estava eu mais uma vez sozinho quando conheci uma pessoa que foi trocando experiências comigo e depois de conversas, criamos uma intimidade grande e um afeto maior ainda. A pessoa estava lá para se importar, para abraçar e para estar junto, e foi aí que a sensação voltou.

Eu estava abraçado com ela e o mundo começou a ir embora de novo. Mas diferente da outra vez, o que ia ficando era uma sensação de calor que ventava gelado, de materialização de moléculas que estavam dissipadas e uma vontade de sorrir brevemente.

Não só o mundo mas o universo indiferente à minha situação tentava isolar uma parte minúscula de sua composição, tentava me fazer sucumbir, me derrubar, me arrastar, mas diferente da outra vez eu me voltava à pessoa que estava ao meu lado e que me remetia à toda humanidade, assim fazendo com que tudo fosse se segurando e que por mais que o universo tenha capacidade de nos esmagar, estava ali o começo de algo que resistia.

Um comentário:

  1. Viver além da deformidade. Os sentimentos assim como os momentos, devem ser compartilhados... sorrindo ou chorando, mas aproveitando o instante.

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