quinta-feira, 15 de setembro de 2011

"A verdade"

Outro dia desses um amigo foi comentar de uma pessoa que conheceu. Eu que não sou daqueles de fazer amizade a todo momento pensei "deve ser mais uma pessoa." Até que chegou o momento que eu a conheci meio que sem querer, em um evento desses da cidade em que tocava um grupo de blues e as pessoas saiam falantes e sorridentes dele.

Eu tinha ido sozinho no evento mas encontrei o meu amigo e essa pessoa lá, obviamente a primeira coisa que a gente repara é a aparência da pessoa e a cabeça já vai julgando. Uma grande pena porque pela aparência dela os conceitos começaram a se formar me fazendo suspeitar que uma pessoa bela poderia ter o que outras pessoas belas tem, como a cabeça rasa e outras coisas que seguem o estereótipo. A partir dai procurei evitar esse pensamento.

Os dias foram passando e eu tive a oportunidade de trocar ideias com ela mesmo que timidamente e pela internet. Parecia que ambos, pessoas fechadas, iam introduzindo um pouco da sua visão de mundo, de acordo com a necessidade das palavras. Entre os sarcasmos e as ironias que iam aparecendo a gente percebia que as palavras sinceras estavam lá e por isso meio que descobrindo o intelecto do outro, descobrindo de onde vem tal pensamento, como a pessoa pensa assim, ambos se respeitando e sem evitar, se analisando.


O que era estranho neste momento, é que as ideias iam se completando. Aquela dor que um sentia e não sabia o explicar, o outro parecia que entendia mesmo assim por algum outro motivo. Aquela conclusão que um chegava por sua série de motivos, o outro já havia chegado em outro momento em outras circunstâncias. Parecia que a conversa ficava se voltando num círculo, mas não era ruim, porque quando o círculo se fechava, ambos haviam descoberto um pouco mais do outro.

E então inevitavelmente o tema da conversa se encontrou com uma ideia que aparecia escondida desde a primeira vez que fiquei curioso pelo que se passava naquela cabeça cheia de contornos e cores que talvez só ela enxergava bem e eu achava que ter acesso a essas coisas seria para poucos, para uma pessoa que seleciona tanto. O tema era sair para uma conversa pessoalmente.

Mecanismos de defesa e brincadeiras a parte, acabou que a gente marcou de se encontrar e eu devia ter pensado duas vezes antes de escolher um lugar que não fosse público, mas afastado dele. "Talvez tudo fosse diferente" eu pensei.

Quando cheguei lá encontrei o café incrivelmente silencioso, os funcionários ausentes pareciam que estavam todos doentes, as prateleiras pareciam mais imóveis que nunca e até o rádio que sempre sussurava baixinho suas músicas estava calado. Eu não entendi, mas como sempre ia lá, preferi esperar pela companhia sentado.

O tempo passou e eu cansado de esperar resolvi subir até a entrada do estabelecimento onde estacionavam os carros e encontrei uma grande van preta na entrada. Ainda bem que eu tinha raciocínio ágil porque não fazia sentido uma van estar estacionada num lugar deserto como aquele e eu comecei a me afastar lentamente quando me deparei com um senhor de terno que me pediu para que eu fosse discreto.

Eu comecei a fazer o que ele pedia, que era sair pela porta da frente e entrar na van, quando despistei ele ao passar pelo cabide de roupas da loja ao lado do café. Eu corri por um quarteirão até que ouvi a sirene de policiais se aproximando da rua debaixo. Sem saber virei a esquina novamente procurando algum lugar para me esconder e pulei o muro de uma casa quieta que tinha um carro alto na garagem, me deitei embaixo.

Fiquei ouvindo e os homens de terno vieram abordar a pessoa da casa em que eu estava, eles se apresentaram como pessoas da Interpol e eu fiquei sem reação, o que facilitou um dos ajudantes deles me acharem. Segui com eles.

Ao chegar no escritório deles me apresentaram fotos daquela pessoa que eu conversava pela internet e eles me pediram para que eu tivesse que ficar longe dela. Eu fui perguntar porquê e eles me questionaram, "e você nunca pensou que talvez suas conversas com ela estavam agradáveis demais? Você não se sentiu tranquilamente estranho?" Ai caiu a ficha.

Um comentário:

  1. Por achar que você sempre escrevia sobre fatos, justo neste texto que carrega o nome "A Verdade", eu me pergunto: desde quando e/ou até onde é verdade?
    Um texto instigante. Legal, Thiago.

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