segunda-feira, 22 de agosto de 2011

"Dança comigo?"

Chegava o fim de semana, depois de dias corridos e cheios de prazos e profissionalidades que exigiam o mais alto caráter frio nas pessoas, para nos apresentar a chance de se aproximar com o próximo, de estreitar laços e evitar a frieza cotidiana.

Eu não sabia bem como começar e chamava uns amigos para conversar, tomar café, as piadas apresentavam risadas tão intensas que representavam esse calor que ia surgindo, mas que se limitadas às meras risadas por si só davam um ar de "falta algo".

Até que surgiu a ideia numa casa de shows durante a apresentação de um grupo musical, de se deixar levar pela música, de ser impulsivo, de expressar o sentimento de calor, antes escondido no dia-a-dia, através dos movimentos da dança. Não uma dança pormenorizada mas sim uma expressão realmente visceral, sem movimentos precisos e as vezes até caóticos. 


Chegava a estranhar aquele que me via expressando algo que era ignorado no cotidiano banal, de forma que não me importava com os movimentos e a opinião alheia, sendo expressivo ao movimentar braços e pernas, no ritmo que fosse, acompanhando as músicas. Era uma mistura do Eu selvagem, que era inquieto, agitado e caótico, com o Eu social, que se mostrava calculador, cuidadoso e racional.

Resolvo sair mais uma noite dessas, deixar para esse sentimento pós-moderno transbordar, forçar esse diálogo entre os dois Eus internos quando eu a avisto em meio a multidão. O barulho é alto, as luzes são rápidas e a movimentação de pessoas é intensa. Ela me reconhece e o que eu faço é falar com ela, mas o som que sai da minha boca não é muito bem identificado, ela não entende. Repito a fala mas não as palavras, o que antes era "Você não imagina as saudades que tenho de você" vira um "Oi, tudo bem?"

O sentimento forte fica tímido perto dela, parece que não quer se mostrar pelas palavras, que elas podem alterá-lo, quando internamente ele permanece puro. A dança que se mostrava tão expressiva conversava muito mais do que as palavras banais que a cumprimentaram. E então eu percebo que não existem palavras que podem demonstrar o que eu sentia por ela e continuo me movimentando, me expressando, dançando.

Mais um pouco e ela se afasta, vai se encontrar com outras amigas que apareceram, sem saber que da mesma forma que eu dançava para evitar a frieza do cotidiano, eu havia tornado minha fala banal e ela não soube que eu me importava com ela. Me despedi com o olhar, e ela sem querer reparou na tristeza que meus olhos ficaram ao se desviarem dela.

Um comentário:

  1. Evitar a frieza do cotidiano é uma senhora façanha.
    Mas a movimentação caótica nos serve de bom auxiliar.
    Obrigada pela incansável companhia!

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