segunda-feira, 29 de agosto de 2011

"Despertar do sono"

Eu estava passando por uma fase que não sabia bem porque não via mais sentido em dormir. Era muito fácil me fazer ficar acordado, as vezes ia acontecendo, como o dia que depois de uma longa série de compromissos eu voltei para casa e ao invés de dormir logo em seguida, fiquei acordado.

Ficava acordado e as vezes esquecia de adormecer, quando via era obrigado a parar de fazer o que estava fazendo porque se ficasse mais um pouco lá era capaz de não dormir e envolver um dia no outro sem transição. Existia uma energia que me impulsionava a fazer as coisas uma atrás da outra e eu ia acompanhando-a.

Até que apareceu o momento que sem reparar havia passado uma hora sem que eu tivesse feito nada, como se eu tivesse dormido sem saber. E esse episódio voltou a acontecer e eu ia sentindo um forte sono nos mais diversos lugares. Nas viagens de ônibus, nas sessões de cinema, até em conversas com amigos que antes me animavam.

Parecia que eu perdia momentos da minha vida, que os dias iam passando mais rápidos e que não eram demorados como no momento anterior. Passei de ter insônia para ter um sono excessivo, e eu procurava pelos motivos.


Um dia desses estava eu esperando o ônibus enquanto adormeci mais uma vez sem querer. Quando voltei ao meu estado reparei em um rapaz que segurava umas flores e esperava alguém na frente de um prédio. Ele ficou por um bom tempo lá e não se cansava, olhava para todos os lados e conversava com algumas pessoas que passavam mas ficava ali em seu lugar esperando incessantemente.

Eu deixei de pegar meu ônibus para observá-lo, queria entender o que fazia alguém como ele não cair no sono que nem eu, e sim pelo contrário, ficar acordado, alerta, esperando algo acontecer, preenchendo todo o seu tempo com ações conscientes, como eu fazia anteriormente quando não conseguia dormir. E então o rapaz se sentou e apoiou as flores no banco da rua.

Então apareceu na portaria do prédio uma garota bonita, loira, estava com um vestido que balançava ao vento e com cores claras que pareciam acariciar o olhar. O rapaz todo animado a cumprimentou e falou algumas palavras para ela, todo sorridente. Ela respondeu com um sorriso tímido, mas logo em seguida se mostrou com uma feição mais preocupada e se voltou para o relógio. Apontou para a direção da rua, disse algo para o rapaz e depois de um abraço carismático, saiu correndo em direção ao seu provável compromisso. O rapaz ficou lá imóvel. Não deu nem tempo de lhe entregar as flores.

Observando ele, imaginei que ele tivesse participado de uma maratona naquele meio tempo. Antes ele tinha a energia para atravessar a cidade a pé, e agora, depois que sua companhia lhe deixou, seu rosto era o de quem havia percorrido quilômetros descalço. E a partir disso começaram a voltar imagens da minha experiência.

Eu entendi que enquanto eu estava me apaixonando e gostando de alguém, os sentimentos e a vontade enérgica de viver eram fortes. Você fica pensando o tempo, os momentos que você passa acordado parece que são para esperar alguém sempre, e então o tempo demora para passar.

Quando isso passa você dorme, você não quer ficar acordado porque vai perceber que na realidade você não tem ninguém, enquanto que sonhando você pode ter alguém. Assim você se sente distraído e acaba dormindo, o que se passa a sua volta não tem tanta importância mas também não te chama atenção, tudo fica como uma fotografia em preto e branco, velha, mal cuidada e corroída pelo tempo.

O sentimento em essência é como se algo tivesse te deixado. A palavra que eu procurava tanto em meus pensamentos só fui achar ao ver o rapaz tendo uma alegria tão intensa, viva e bonita sendo desprezada pela pessoa que ele tanto se importava. Era algo que havia me esquecido, e que ao invés de me deixar acordado, em sua ausência me fazia dormir. Era então a esperança.

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