quinta-feira, 18 de agosto de 2011

"O abrir de uma flor"

A primeira vez que a vi eu devo ter agido estranho porque foi um susto. A pessoa que trabalhava atendendo as pessoas no seu lugar era um rapaz que eu sabia quem era e conhecia, mas depois de umas semanas ele havia saido do emprego dando lugar à esta nova pessoa que apareceu sem avisar.

Depois da surpresa inicial, deu tempo de respirar um pouco e tentar ver quem era essa pessoa. A primeira curiosidade que chamava atenção era seu cabelo loiro, seus olhos claros e sua aparência que ofuscava, em que outros logo entenderiam que se tratava de uma pessoa extrovertida, altamente sociável e talvez superficial, como indicavam o clichê do senso comum de uma pessoa bela.

Foi nas primeiras palavras que percebi que isso se tratava de um erro considerável, que pelo contrário, ela participava da quebra desses conceitos pré-estabelecidos só que de uma forma sutil que só percebiam de verdade aqueles que parassem e prestassem atenção, porque era algo íntimo. E foi o que resolvi fazer, parar e prestar atenção nos seus gestos, nas suas visões e nas suas palavras. Diferente daquele senso comum que só ia olhá-la eu resolvi ouví-la.


Assim aconteceu que eu descobri seu gosto estético, inicialmente musical, que como eu, admirava os sons felizes do passado e assim soando como melancólico. As big bands de jazz que faziam dançar e representavam uma "era de ouro" que não chegava a ser nostálgico no sentido de arrependimento de não ter conhecido pessoalmente, porque naquela época provavelmente o "nostálgico" seria mais antigo ainda, sempre cíclico.

E depois disso ela mostrou que também tirava fotos. Sua máquina fotográfica como uma forma de aproximar do relato sua visão própria de mundo, que via as cores pulsantes e ardentes e a beleza nos detalhes, chamavam atenção para o mundo que sempre pesado mantinha suas angústias.

Eu voltava para conversar com ela, todo sem jeito, enfrentando a velha questão de sua aparência que inicialmente indicava caminhos diferentes daqueles que a gente descobria conversando com ela. Sempre suas palavras, pontuais e as vezes aparentando tímidas, indicavam uma pequena ponta de tudo aquilo que ela guardava para ela, até parecia maldade.

Aos poucos ela ia compartilhando sua visão de mundo e assim eu acompanhava até que a gente conversou sobre o potencial das pessoas. Minha visão mais dura da realidade queria dizer que o potencial é fraco nas pessoas mas discretamente achava o contrário, que justamente pelo potencial enorme e desperdiçado das pessoas havia uma certa desilusão da parte individual minha.

Ai ela comentou que não sabia como era esse "potencial" que parecia ora abstrato ora concreto. 'Será que a gente conquista o potencial?' Perguntou ela. Eu quis dizer que o potencial se acendia como uma faísca inicialmente mas também não aparecia de acordo com uma dávida. Pra mim o potencial se instalava no primeiro momento que a gente lida com o assunto, como por exemplo o artista iniciante.

Assim instingando uma inspiração falei para ela que deveria separar seu material fotográfico para exposição, afinal, seu potencial estava mais do que latente. Ela ficou em dúvida. Pois ela nem sabia que todas essas coisas formavam seu potencial e guardar essa visão de mundo e sua beleza para si, seria na verdade, como uma bela flor que impossibilitada de ser admirada, murcha esquecida, como uma pequena tragédia.

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