quarta-feira, 3 de agosto de 2011

"O segundo impreciso"

Quando eu a chamei para conversar, estava silencioso. A falta de barulho ajudava na produção de novas perguntas e ideias que iam surgindo e passeando pela cabeça. Olhando pela janela dava para sentir que naquele momento a cidade dormia, todos com seus dias desgastantes e que procuravam seu momento de alívio, encontravam nesse silêncio devorador o momento apropriado para descansar e dormir para se preparar para um novo dia. Mas meu dia não ia acabar assim.

Comecei a conversa com coisas cotidianas mas no fundo eu só queria saber como ela estava, se estava tudo bem, porque do contrário, isso poderia levar a preocupações. Depois de palavras e brincadeiras, chegamos até a questionamentos sobre a vida e a morte. Ela não sabia bem o que fazer da vida, tinha dúvida sobre seu futuro próximo e distante, mas talvez tudo estivesse assim porque coisas próximas dela haviam alterado essa percepção objetiva para uma confusão distorcida das coisas. Na falta de direção ela se expressava com palavras.


O que ia querer da vida, em quem devia confiar, as pessoas que valem a pena, as pressões que são reais e as que deviam ser questionadas, as situações do cotidiano que expressavam ideias maiores, tudo parece que corria de um lado para o outro na cabeça dela e era difícil, mas eu procurava acompanhá-la na conversa.

Eu comentava um filme que me emocionou e ela falava de uma peça de teatro que lhe inspirou. Parecia que a gente sentava no escuro da platéia sozinho, mas na verdade estávamos sentados juntos, cada um com sua absorção das imagens, das cores, dos sons. Recuperando memórias, sentimentos a tona, pausas cochichadas e papéis de bala que se abriam.

Depois eu sai para tomar café, li um pouco e pensei. Ela saiu para ler, tomou um chá e pensou. O que pensamos, expressamos na conversa da noite que viria e que se demonstrava um resumo dos fatos cotidianos quando significava mais, sempre mais.

A madrugada ia penetrando pelas frestas da porta e da janela, e a conversa antes intensa e cheia de energia parece que ia perdendo seu ímpeto, seu rumo, sua direção. Parecia que no fundo de todas as palavras o que mais se expressava era o sono. Resolve-se aquele assunto, brinca mais um pouco e tchau, despede-se para não conversar mais. A conversa fica em silêncio por alguns segundos. E eu nem falei que eu amo ela.

2 comentários:

  1. é, de fato vocÊ escreve muiito bem. e a poesia faz essas coisinhas cotidianas tornarem surreais *_________________*
    beijus!

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  2. ahuhuahuahuau.....q blog tenso de postar comentarios! ..acho q ele non quer ser comentado.huauha

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